Apropriação cultural existe?

Desde a chegada dos Portugueses, até os dias atuais; muito se fala da grande mistura étnico-cultural que é inerente a este país que hoje chamamos de Brasil. Dor, sofrimento e genocídio são, no entanto, três pilares de um passado que inspirou músicas como “O Canto das Três Raças”, de Clara Nunes, que narra, na canção, a luta do povo Indígena e dos escravisados pela sobrevivência dos seus iguais e também de suas culturas. Nesse Viés, atualmente, têm-se observado a falta de informação de grupos dominantes que tomam para uso objetos e símbolos ritualísticos desses povos originários, o que gera a necessidade de profundo debate sobre apropriação cultural e o genocídio simbólico que ela pode representar.

Em primeira análise, disposições que negam a existência da apropriação cultural, pautam muito a questão de que, por exemplo, uma mulher branca usar um turbante é positivo, pois, supostamente, isso fomentaria a diversidade. No entando, essa utilização de adereços de culturas que não pertecem à pessoa que os usa, gera uma ressignificação desses ítens e tem um caráter ignorante, haja vista que tornar um objeto de força e luta algo de caráter modista e comercial não fomenta que a população branca entenda o real significado desses símbolos e apenas banaliza ainda mais uma cultura historicamente já oprimida.

Em segunda análise, o reforço de esteriótipos racistas e preconceituosos é fruto da apropriação cultural notada em festas e tempos carnavalescos. A “fantasia” Indígena, hora conota sensualidade, hora ridiculariza os índios, e em ambos os casos a luta desse povo para conseguir sobreviver e manter suas tradições de pé, é subestimada. Outrossim, ao usar uma cultura historicamente oprimida como um “enfeite”, é possível notar que se forja o Brasil – que é regido por um racismo estrutural- como um “Paraíso das Três Raças”, e a parcela da população que sofre com a intolerância fruto da colonização genocida é cada vez vista como um personagem e não como cidadãos que tem culturas e pautas a serem respeitadas e seriamente discutidas.

São necessárias, portanto, medidas para solucionar o exposto. Cabe ao Ministério da Educação- MEC-, após longo diálogo com a FUNAI- Fundação Nacional do Índio- e Movimentos Negros de todo o país, implementar, nas escolas de nível básico, palestras sobre símbolos Indígenas e Africanos, explicando seus significados. Com essa medida, espera-se que os estudantes , uma vez conhecendo a impotância e a particularidade desses ítens para cada povo, sejam agentes da não reprodução da apropriação cultural fruto da desinformação, desenvolvendo um olhar coletivo e assumindo as realidades históricas que não permitem o Brasil ser chamado de “Paraíso das Três Raças”.