Analfabetismo funcional no Brasil: empecilho para o exercício da cidadania

No longa sul-coreano, “Okja”, observa-se a história de uma garota coreana que tem uma porca gigante (que dá nome ao filme) como amiga. Todavia, algo que ela não sabia é que o animal participava do projeto de uma empresa, que tinha como objetivo investir na espécie, engordando-os até que a data do abate chegasse. Após ter Okja usurpada pela organização, a menina vai à companhia em busca de um resgate. Entretanto, chegando lá, ela nem sequer consegue negociar, pois não sabia falar inglês. Assim como a personagem, vários brasileiros têm seus direitos praticamente negados por conta da dificuldade em expressar-se e entender, advindo do analfabetismo funcional. Isso ocorre, principalmente, por conta do baixo investimento na educação, e resulta no aumento desse problema, prejudicando a cidadania de milhares de pessoas.

Primeiramente, é preciso entender que a principal causa do analfabetismo funcional é a educação sucateada do Brasil. De acordo com o Inaf (Índice de Analfabetismo Funcional), desde 2001, a totalidade de pessoas da faixa etária de 15 a 64 anos que terminaram o Ensino Médio subiu de 24% para 40%. Contudo, apenas cerca de 10% conseguia comunicar-se pela linguagem escrita de modo eficiente. Certamente, a falta de avanço nesse aspecto demonstra o quanto o Estado foi infeliz em melhorar o aprendizado básico do país. O descaso para com a educação do Brasil é algo muito mais antigo, tendo como fundamento o baixo investimento da área. Como disse Aristóteles, “A educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces” – e é justamente por isso que é necessário ter mais atenção com essa área.

Ademais, o analfabetismo funcional acaba por prejudicar, até mesmo, o aproveitamento de direitos básicos do cidadão, como a cidadania. De acordo com a pesquisadora do Inaf, Ana Lima, essas pessoas não conseguem tirar proveito totalmente de coisas presentes na vida delas, tendo como exemplo as redes sociais. Dessa forma, o mesmo se aplica a coisas mais básicas, como a cidadania, que é garantida na Constituição de 1988. Apesar de ser algo ofertado pelo Estado, indivíduos com um déficit desse tipo são extremamente prejudicados – o que definitivamente não deve ocorrer em um país que prese pelo seu povo.

Portanto, torna-se visível que o Estado necessita redimir-se e tomar medidas para mitigar o problema. O Ministério da Educação precisa, por meio do aumento de verbas, investir mais nas escolas, buscando uma melhoria nesse campo, além de aprimorar a formação dos professores do país, especialmente da rede pública, com a finalidade de nivelar o ensino do país, não deixando a população mais pobre, que não tem como usufruir de um colégio privado, com o aprendizado defasado em comparação aos alunos da rede particular, além de resolver desde a raiz o problema com a educação brasileira, focando na base. Somente assim será possível extinguir essa adversidade, evitando que enganos prejudiciais, como os retratados em Okja, aconteçam.