ALTERNATIVAS PARA REDUZIR A PRODUÇÃO DE LIXO ELETRÔNICO NO BRASIL

O romance filosófico “Utopia”, criado pelo escritor inglês Thomas More, retrata uma sociedade perfeita e idealizada, na qual a engrenagem social é altamente segura e desprovida de conflitos. Tal obra fictícia, no entanto, mostra-se distante da realidade contemporânea no tocante à produção de lixo eletrônico, uma vez que essa problemática ainda se faz presente no Brasil. Nesse contexto, verifica-se a configuração de um grave problema de contornos específicos, que emerge em razão não só da mentalidade capitalista, mas também da negligência das instituições formais de ensino.

Nesse sentido, convém ressaltar que o capitalismo exacerbado das indústrias atuais contribui para a permanência dos obstáculos que impedem a redução da produção de lixo eletrônico. À vista disso, o ativista indiano Ghandi afirmou que “A natureza pode suprir todas as necessidades do homem, menos a sua ganância”. Sob esse viés, é perceptível que a afirmação do pensador ainda se faz pertinente no contexto hodierno, haja vista que muitas empresas, especialmente aquelas que produzem artefatos tecnológicos, secundarizam a manutenção da natureza diante da constante busca pela lucratividade e pelos interesses individuais. Um exemplo disso são as indústrias de celulares que, mesmo com o avanço da tecnologia, produzem aparelhos telefônicos com baixo período de duração, a fim de estimular o consumo periódico desses aparelhos. Dessa forma, quando esses artefatos tecnológicos esgotam o seu tempo de duração, muitos indivíduos acabam descartando-os, na maioria das vezes, em lugares inapropriados -como o mar-, atravancando, assim, a superação do entrave.
Ademais, outra causa responsável pelo aumento da produção de lixo eletrônico é a omissão das instituições de ensino. Isso porque as escolas, por vezes, estão mais focadas nas notas disciplinares dos alunos do que em promover ações que poderiam conscientizá-los acerca do descarte correto desses lixos eletrônicos – como a realização de palestras com ambientalistas. Tal cenário nefasto pode ser elucidado a partir da proposição da pedagoga Vera Maria Candau, a qual afirmou que o sistema educacional brasileiro, por estar preso nos moldes do século XIX, não oferece propostas para os impasses da modernidade. Dessa maneira, é imprescindível que esse desmazelo escolar deve ser erradicado para que a máxima da pedagoga não seja mais uma realidade no território nacional.

Portanto, o Ministério do Meio Ambiente – enquanto instância superior dos aspectos ambientais- deve criar um projeto que obrigue, legalmente, as indústrias de tecnologia a adotarem -em todas as suas produções- um modelo sustentável de criação, além do reaproveitamento dos resíduos. Essa ação precisa ser realizada por meio de uma parceria entre o Poder Público e empresas públicas e privadas, com o objetivo de priorizar a manutenção do meio ambiente. Outrossim, cabe ao Ministério da Educação promover debates para os estudantes, por intermédio de campanhas midiáticas, as quais abordarão o descarte consciente dos lixos, com a finalidade de gerar o senso crítico nos cidadãos. Somente assim, poder-se-á concretizar a “Utopia” de More no Brasil.