A persistência do racismo na sociedade brasileira

Num episódio da série “Fronteiras humanas” da Netflix, é retratado o drama da população negra em uma distopia, na qual o mundo foi corroído pelos problemas decorrentes de uma alta explosão radioativa do Sol, e diversos países adotaram o critério racial para isolar as pessoas de descendência africana das demais, com o intuito de diminuir a demanda por água e comida. Ao longo da trama, a narrativa revela, além dos problemas sociais enfrentados pelos indivíduos marginalizados, a homogeneidade cultural da elite descendente de europeus e asiáticos, assim como os distanciamentos físico e psíquico entre os negros e a outra parcela do povo. Fora da ficção, fica claro que a realidade apresentada na série pode ser relacionada àquela do Brasil contemporâneo: a persistência do racismo na nossa sociedade dá origem à desvalorização da cultura afro-brasileira e a uma constante segregação racial.

Em primeiro lugar, é importante destacar a baixa representação dos valores, costumes e tradições da população negra no Brasil. Desde o final do século XIX, período marcado pela 2º revolução industrial e pelo imperialismo das nações mais desenvolvidas sobre as mais pobres, diversos setores da cultura brasileira vêm sofrendo influência cada vez maior dos EUA, como preconizava a doutrina Monroe: A América para os americanos. Esse fenômeno, somado a outro que o escritor Karl Marx denominava “alienação”, o qual consiste na imposição de um conjunto de ideias (ideologia) por parte das elites sobre as camadas mais vulneráveis do povo, faz com que tradições e valores estrangeiros substituam o aparato linguístico e imaterial afro-brasileiro. Assim, mostra-se patente a desvalorização do modo de vida e das ações perpetradas pela parcela negra tupiniquim.

Além disso, observa-se a separação de espaços discriminatória que atinge a paisagem demográfica do país. De acordo com o censo do IBGE realizado em 2010, 90% dos indivíduos que vivem em áreas socioeconomicamente vulneráveis (comunidades e assentamentos rurais) identificam-se como pretos ou pardos. Da mesma forma, na pesquisa consta que 82% dos residentes de áreas mais abastadas (renda per capita maior do que cinco salários mínimos) consideram-se brancos ou amarelos. Paralelamente, é notável que a canção “Yaô”, do cantor Pinxinguinha, a qual mistura o iorubá com o português, não seja vista na realidade devido à segregação entre “eurodescendentes” e afrodescendentes.

Portanto, é mister que sejam tomadas providências para amenizar o quadro atual. Para promover a valorização da cultura negra no Brasil, urge que o Ministério da Educação e da Cultura implemente, por meio do corpo docente e dos estudantes das várias instituições educacionais do país, filmes acadêmicos que retratem elementos do dia-a-dia da população periférica negra e os seus hábitos relacionados à diversão e ao entretenimento. Não só, o Ministério do Desenvolvimento Regional deve criar, através de parcerias com as secretarias de infraestrutura estaduais e municipais, planos urbanísticos que interliguem as redes de transporte e comunicações da cidade, com o objetivo de diminuir a segregação racial presente nos grandes centros. Sendo assim, será possível que, num possível futuro momento de crise, não isolemos e discriminemos uma parte dos brasileiros.