A necessidade de desconstruir o tabu acerca dos cuidados masculinos

No livro “Memórias póstumas de Brás Cubas”, do escritor brasileiro Machado de Assis, o personagem principal afirma que não teve filhos, desse modo não transmitiu a nenhuma criatura o legado da miséria humana.  Nesse sentido, fora da ficção, talvez Brás Cubas tenha considerado sua peculiaridade benéfica, uma vez que necessidade de desconstruir o tabu acerca dos cuidados masculinos demonstra a penúria das relações sociais hodiernas. A partir desse contexto, é evidente que, não só influência midiática, como também a falha educacional aprofundam essa situação calamitosa no Brasil.

Nessa perspectiva, a influência da mídia contribui para a vigência desse tabu na sociedade brasileira. Isso acontece, porque a gama midiática, em busca de reter a atenção do telespectador, estereotipa o homem vaidoso como “afeminado”, haja vista que a vaidade masculina, em suas exibições, é, na maioria das vezes, usada como alivio cômico. Por conseguinte, essa conjuntura sintetiza uma resistência no cidadão médio no tocante aos seus cuidados pessoais, por não querer para si a caricatura criada pela mídia. Desse modo, essa reflexão pode ser confirmada com o personagem Seu Osmar – interpretado pelo brasileiro Evoney Fernandes- o qual afirma, em um vídeo no Tiktok, que fazer a sobrancelha não é “coisa de homem”. Dessa forma, isso torna claro que os cuidados masculinos, por causa da mídia, ainda são estigmatizados entre os cidadãos nacionais.

Ademais, é clarividente que o sistema educacional falho cristaliza tal tabu no corpo social brasileiro.  Essa situação surge da esfera educativa que, ao visar somente o ensino tecnicista para a formação de mão de obra, prioriza atividades conteudistas em detrimento de ações práticas que fomentam a desconstrução do estigma associado aos cuidados masculinos. Sob essa análise, o filósofo Immanuel Kant afirma que o “homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”, o que evidencia que não se pode esperar uma sociedade descontruída frente a esse tabu machista, sendo que, nem mesmo na escola, é estimulada a isso.

Portanto, inferem-se ações do Poder Público para mitigar esse cenário em questão.  Dessarte, urge que o Ministério da Educação crie, por intermédio de verbas estatais, projetos socioeducacionais, como palestras, de forma interativa nos centros educativos, com o objetivo de sanar tanto a falha educacional nesse viés como desconstruir o estereotipo criado pela gama midiática mediante aos cuidados masculinos. Somente assim, de forma lenta e gradual, será possível, não só libertar o Brasil dessa mazela, como também tornar a especificidade de Brás Cubas um motivo de lamentação.