“A linguagem neutra em questão no Brasil”

Na série americana “One Day at a Time” a personagem Elena apresenta para sua família Syd, uma pessoa não binária e que utiliza pronome neutro. Apesar do estranhamento inicial, a família respeita e utiliza os pronomes corretos de Syd. Infelizmente, fora das telas, essa realidade se inverte, pois a linguagem neutra ainda está em questão no Brasil. Logo, é crucial a análise dos prós e contras para a sua adoção nacional, os quais destacam-se: a democratização do idioma e o público restrito.

A princípio, é necessário destacar a importância do estabelecimento da linguagem neutra. Só para ilustrar, no livro “1984”, do autor George Orwell, é abordado o “Novidioma”, uma língua fictícia que visa diminuir o inglês o máximo possível. Nesse sentido, o objetivo da redução é diminuir a capacidade de expressão da população, pois, se não existem palavras para expressar determinada coisa, ela não existe. Seguidamente, o mesmo se dá em relação ao dialeto imparcial, pois negar o seu uso é também negar a existência de gêneros além do feminino e masculino. Por fim, considerando-se que o “Novidioma” acontece em meio a uma ditadura, é preciso democratizar o português, tornando-o mais inclusivo.

Entretanto, deve-se levar em conta que a linguagem neutra não apenas é voltada para um público pequeno, mas também são poucos brasileiros que se quer a conhecem. Isso pode ser exemplificado por um estudo desenvolvido pela Universidade Estadual Paulista – Unesp – que identifica apenas 2% da população brasileira como não binária ou transgênero. Isto é, a aceitação da comunicação neutralizada se torna pouco viável porque além dos 2% de brasileiros previstos na pesquisa, grande parte do povo, por a linguagem ser disseminada principalmente na Internet, não a conhece ou não vê motivos para a sua utilização. Enfim, tendo em vista que a imposição forçada do dialeto neutro só aumenta a violência contra o público LGBTQ+, é inadmissível que esse cenário perdure.

Portanto, medidas que cheguem num consenso sobre a discussão devem ser tomadas. Ou seja, o Governo Federal precisa tornar a língua portuguesa mais integral, por meio da inclusão de mais uma opção de gênero, além do feminino e masculino, em registros e documentos oficiais, além de facilitar a mudança de gênero oficial para pessoas transgênero. Ademais, uma campanha de conscientização sobre a existência da linguagem neutra e expressões de gênero não binárias deve ser realizada. Em síntese, essas ações teriam a finalidade de aproximar a realidade verde-amarela àquela vista em “One Day at a Time”.