A evasão escolar em questão no Brasil

No documentário “Nunca me sonharam”, da diretora Cacau Rhoden, são entrevistados alunos do ensino médio público brasileiro de cidades metropolitanas e do interior do país, catalogando impressōes e experiências destes quanto ao sistema educacional nacional. Ao longo da obra audiovisual, verifica-se a proeminência de um discurso: a carência de motivação, a falta de esperança no ingresso ao ensino superior e a dificuldade do retrato da escola como um veículo de oportunidades. Atualmente, muitos estudantes compartilham as mesmas opiniões desses jovens, fator que se relaciona à crescente evasão escolar no país, problemática viabilizada pela necessidade de inserção prematura no setor laboral e pela falta de métodos de ensino que tenham o aluno como protagonista.

Segundo a Declaração Universal de Direitos Humanos, a educação é um direito de todos e deve ser obrigatória pelo menos até o ensino elementar fundamental. Contudo, apesar do que é afirmado no documento de 1948, promulgado pela Organização das Nações Unidas, a prerrogativa não é garantida em sua totalidade no país, pois, mesmo que uma grande parcela dos estudantes conclua a sua formação até o nono grau, o Censo Escolar de 2016 informa que, a partir dos 15 anos, muitos adolescentes substituem sua carga horária letiva pelo turnos de trabalho, na tentativa de auxiliar nas despesas familiares e de conquistar uma futura independência financeira. Assim, sem a aplicação de medidas públicas que orientem esses jovens, o problema persiste, potencializando a crise educacional brasileira.

Outrossim, a permanência de didáticas que não prezam pelo desenvolvimento pessoal do aluno também influencia a evasão escolar no país. Nesse contexto, faz-se necessário refenciar o longa-metragem norte-americano “Capitão Fantástico”, no qual é retratada a história de um pai que decide educar seus quatro filhos no espaço campestre de modo independente, propiciando-os conhecimentos de mundo enriquecedores e que os auxiliem em suas experiências individuais futuras. De modo bastante divergente da situação representada no filme de 2016, a realidade do sistema de ensino nacional ainda baseia-se no entendimento superficial dos conteúdos lecionados, já que visa primordialmente a conquista de desempenhos satisfatórios em avaliações periódicas, negligenciando a formação do estudante como cidadão e como indivíduo.

Portanto, frente ao impasse exposto, é mister que ações sejam efetivadas, visando a sua mitigação. Inicialmente, as Secretarias de Educação Municipais, em parceria com o Ministério do Trabalho, deverão, a partir de verbas governamentais, expandir o já existente Programa Jovem Aprendiz, que equilibra a grade curricular estudantil com estágios de meio período, a fim de evitar o abandono escolar e de propiciar o acesso responsável e adequado ao setor laboral. Ademais, o Ministério da Educação, por meio de capital público, deverá atualizar o sistema educacional do país, propondo didáticas que se conectem com o cotidiano do aluno e que contribuam com a sua formação pessoal, com o intuito de torná-lo protagonista de seu aprendizado. Logo, a partir dessas medidas, espera-se reverter o cenário documentado em “Nunca me sonharam” no Brasil.