A democratização do acesso ao cinema no Brasil

De acordo com o filósofo Walter Benjamin, a indústria cultural – exemplificada pelos mecanismos de produção de entretenimento, como programas televisivos e cinematográficos – constitui uma ferramenta essencial à democratização do acesso à arte e à cultura entre a sociedade civil. Contudo, no Brasil hodierno, essa concepção aparenta não se concretizar plenamente, haja vista a possibilidade de se frequentar cinemas não ser democratizada em todo o país. Dessa forma, faz-se mister analisar as causas inerentes a esse problema, sobretudo no tangente à falta de investimentos no setor.

Primeiramente, é possível identificar um dos alicerces da problemática na carência de interesse, por parte de alguns municípios brasileiros, em investir na ampliação de infraestruturas necessárias ao acesso às produções cinematográficas. Afinal, nota-se uma disparidade entre grandes centros urbanos e cidades do interior do Brasil quanto ao número de salas de cinema disponíveis à população, a ponto de ser comum que certa parcela dos cidadãos de regiões interioranas nunca tenham desfrutado desse programa cultural. Nesse sentido, em consonância às ideias de John Rawls acerca da necessidade de haver equidade social para existir justiça, percebe-se como imprescindível que o Estado destine maiores investimentos à democratização do acesso ao meio cinematográfico no país.

Ademais, a persistência do problema culmina na intensificação da marginalização dos segmentos da população desprovidos da possibilidade de fruir do cinema. Sob esse prisma, o conceito de violência simbólica, cunhado pelo sociólogo Pierre Bourdieu, mostra-se assertivo, na medida em que explica a existência de agressões não físicas assoladoras de certa parcela da sociedade, manifestadas na falta de direitos. Para ilustrar isso, basta refletir sobre como os cidadãos sem acesso às produções cinematográficas têm seu direito à cultura, garantido pela Constituição, negado.

Destarte, torna-se imperativo adotar medidas concretas, destinadas a democratizar a possibilidade de se acessar o cinema no Brasil. Para tanto, cabe ao Estado oferecer condições a todos os municípios do país terem infraestruturas necessárias a esse programa cultural, mediante a destinação de maiores investimentos às prefeituras, especialmente de regiões interioranas – o que pode ocorrer com a criação de um fundo nacional específico à questão –, a fim de permitir, à totalidade das cidades brasileiras, a democratização do acesso ao cinema. Assim, possibilitar-se-á a concretização das ideias de Walter Benjamin no Brasil.