A cultura do cancelamento na contemporaneidade.

    Em 2020, Drauzio Varella, um dos médicos mais queridos do país, sofreu represálias ao abraçar uma mulher transexual, que estava detida por ter estuprado e matado um garoto de dez anos em 2009. Na ocasião, ele estava realizando uma reportagem para o programa global “Fantástico” sobre a vida das transexuais em um presídio, e não sabia o motivo da prisão da mulher. Analogamente, a cultura do cancelamento na contemporaneidade tem mostrado o quanto as pessoas julgam atitudes dos outros, sem se importar com o contexto da situação. Isso então, decorre-se da falta de empatia e a banalização do movimento. Nesse sentido, é necessário analisar tal quadro, intrinsecamente ligado a aspectos do bem estar social.

   Primeiramente, muitos indivíduos dizem-se detentores da verdade e da razão, decidindo assim, o que é certo e errado, segundo o que acreditam. Exemplificação clara, foi a influenciadora digital Alinne Araújo que suicidou-se depois de sofrer ataques por decidir casar-se sozinha, após ser largada pelo noivo. Os internautas a acusaram de criar uma situação falsa só para se autopromover. Como a moça já sofria de transtornos psicológicos, tal acusação só serviu como gatinho emocional para o agravamento da situação. É claro que, tais atitudes vindas desses usuários são bastantes nocivas, quando praticadas em grande massa.

   Em segundo plano, um movimento que serve como ferramenta para compartilhar conhecimento para o público, tornou-se uma piada nas mãos de pessoas insensíveis. Isso, comprova-se com o objetivo inicial do termo, conhecido como “cultura do cancelamento”, que começou a ser aplicado há alguns anos, como uma forma de chamar a atenção para causas como justiça social e preservação ambiental. Mas, como muitos não se adequaram a esse fim, iniciaram a utilizarem-na para apontar erros ou julgar as ações dos usuários da rede. Consequentemente, é impossível negar os impactos provocados por esse uso de forma errada.

    Portanto, são essenciais medidas operantes para que tal prática se adeque a finalidade correta. Para isso, o Estado deve promover campanhas e palestras, em parceria com as grandes plataformas digitais, levantando debate de como é o processo de cancelamento com pessoas injustiçadas, assim conscientizando a população a não contribuírem para mais linchamentos virtuais. Ademais, cabe a tais plataformas, por meio de seus colaboradores, criarem ferramentas que auxiliem seus utentes a denunciarem publicações de cunho criminoso. Dessa maneira, quando tais medidas começarem a serem executadas, injustiças como a que acometeu o médico começaram a deixar de serem acometidas.