A cultura do cancelamento na contemporaneidade

De acordo com o sociólogo Zygmunt Bauman, “vivemos em uma sociedade líquida, na qual nada é feito para durar.” Esse pensamento permite estabelecer um paralelo com a cultura do cancelamento na contemporaneidade, uma vez que essa prática está, majoritariamente, associada ao distanciamento interpessoal da sociedade. Por certo, pode-se afirmar que uma das principais causas dessa invalidação é a desumanização presente nas redes sociais e a deturpação ética corrente no corpo social hodierno. Nesse contexto, deve-se analisar as dificuldades existentes e encontrar possíveis soluções para mitigar o óbice.

É relevante abordar, primeiramente, que uma das principais causas da cultura do cancelamento é a falta de humanidade presente nas redes sociais. Isso decorre diretamente do afastamento pessoal, na qual um indivíduo torna-se facilmente violado a partir de um discurso de opressão banalizado socialmente, e por consequência dessas ações, ocorre a legitimação do comportamento violento, facilitado pelo reconhecimento de pessoas apenas como perfis online, e não como um ser racional e dotado de sentimentos. A exemplo disso está o rapper Kanye West, que foi duramente criticado e ameaçado apenas por discordar do pensamento político da maioria da população. Desse modo, é imprescindível que essa problemática seja resolvida.

Ademais, observa-se que a deformação ética na atual sociedade é um grande obstáculo a ser enfrentado. Sem dúvidas, esse fenômeno é alavancado pela superficialidade das relações intersubjetivas, na qual o indivíduo avalia, baseado em seus valores pessoais, o que é certo e errado e, de imediato, julga o próximo sem levar em consideração o contexto vigente na situação. Resultado disso é um tecido social individualista e promovedor de uma justiça imediatista. De acordo com Mahatma Gandhi, “olho por olho e o mundo acabará cego.” Sendo assim, é necessário medidas para evitar a cegueira da humanidade.

Portanto, são essenciais medidas operantes para a reversão da cultura do cancelamento na contemporaneidade. Para isso, faz-se necessário que os meios midiáticos trabalhem na disseminação de informações acerca dos males que o discurso de ódio pode causar, por meio de campanhas e propagandas, com o intuito não só de conscientizar a população, mas também diminuir a invalidação de indivíduos. Além disso, o Ministério da Educação, órgão responsável pelo sistema educacional brasileiro, deve atentar-se na reformulação dos valores éticos do âmbito social, através de oficinas e palestras públicas, a fim de construir uma sociedade menos individualista. Desse modo, certamente, o pensamento de Bauman não mais se aplicará no tecido social vigente.