A relação entre ciência e crença

O Iluminismo reacendeu a possibilidade de buscar conhecimento sobre questões diferentes das buscadas pelas escolas eclesiásticas. Simultaneamente, a concentração de riquezas proporcionada pelo capitalismo comercial, aliada aos interesses da burguesia, proporcionou o desenvolvimento da ciência de forma nunca antes vista, culminando nas revoluções industriais. Por outro lado, a desigualdade gerada pela concentração das riquezas, excluiu a maior parte das pessoas desse conhecimento, gerando desconfiança na própria ciência, além das instituições que nela se basearam, como estados, indústrias, justiça, etc. Num momento de crise ambiental, econômica e política, quando mais deveríamos confiar e nos apoiar no conhecimento técnico-científico acumulado nas últimas décadas, esse se torna motivo de conflito, colocado erroneamente num polo oposto a fé, e ocasiona grande tensão social em grupos que tem acesso a ela e a compreendem, e grupos que não tem acesso e a não compreendem.

Nas últimas décadas, uma parte significativa da população teve, de certa forma, a partir das políticas de inclusão social praticados nos governos petistas, acesso à educação com o aumento significativo de vagas em cursos técnicos e superiores. No entanto, esses cursos estavam em sua maior parte voltados para a formação direcionada ao mercado de trabalho, principalmente, nas instituições privadas de ensino, portanto mais técnicos, sem se preocupar em desenvolver o pensamento crítico, fundamental para entender a relação da ciência com a fé, entender que essa relação não precisa ser de ameaça.

Além disso, há o grupo composto pela maior parte das pessoas, que não teve contato com o conhecimento, seja por essas políticas não terem chego até essas pessoas, ou por nem mesmo terem tido ensino de qualidade mínima nos ensinos fundamentais e médio. Para esse grupo, qualquer experimento científico que conteste seu conhecimento prévio é visto com medo e repugnância. Como consequência, temos uma massa manipulada pelo medo irreal de que os avanços científicos são uma ameaça ao seu modo de viver e pensar.

Outro motivo pelo qual o não acesso à informação causa conflito, é que naturalmente o ser humano tende a buscar um sentido para sua existência, e historicamente esse sentido sempre esteve ligado a fé. Nos últimos tempos, houve um aumento ainda maior desse sentido estar apoiado nas crenças religiosas. Com a cultura vigente de que a erudição é oposta a fé, essas pessoas a renegam pelo medo de perderem o sentido de suas vidas, pois conhecer e assimilar novas informações requer capacidade de aceitar mudar o que se pensava antes, e isso não é uma tarefa agradável de início.

A subida de grau dos conflitos tem levado a uma frequência maior de violência extremismos, ataques as instituições públicas e privadas, enfraquecendo as mesmas, ao mesmo tempo que fortalece líderes que se utilizam do caos para justificar e legitimar um autoritarismo crescente pelo globo. A consequência disso é o agravamento das crises, da fome, da miséria, o enfraquecimento do estado de direito, que leva inevitavelmente a um maior desrespeito às leis e aos direitos humanos universais, e a negação de que, como os cientistas expõe, por conta dos níveis atuais de produção e consumo dos recursos disponíveis, a humanidade caminhe para um período de intensos desastres ambientes que podem culminar com o fim da vida como a conhecemos.

Com todas essas questões colocadas, fica evidente as tensões e conflitos sociais ocasionados entre os diversos grupos e suas formas diferentes de pensar e ver a vida. O que se vê é cada vez mais um ativismo e militância, gasto de energia e recursos em defender uma narrativa, do que propriamente resolver as crises atuais que persistem e se agravam.