Representatividade Ancestral.

A música “Imagine”, do cantor britânico John Lennon, retrata uma sociedade com vistas ao progresso coletivo. Contudo, fora da canção, por mais que a harmonia social seja indispensável para o desenvolvimento de uma nação, os desafios para a valorização da herança africana no Brasil dificultam a concretização desse cenário idealizado pelo artista. Logo, faz-se fundamental a análise das principais causas do problema: a negligência governamental e a falta de identidade cultural.

Diante desse cenário, vale ressaltar que a negligência governamental é uma das principais causas do impasse. Nesse viés, para o filósofo libertário Barnett, o Estado, por sua própria natureza, é contraditório como legislador, de forma a ser ineficiente. De maneira análoga, quanto à problemática dos desafios para a valorização da herança africana no Brasil, esse paradoxo do governo se materializa na falta de cumprimento eficaz dos direitos garantidos, na teoria, constitucionalmente, a exemplo do direito à cultura nacional e representatividade. A prova disso é a escassez de ações concretas que visem garantir o direito de conhecer essa cultura, que fez parte da construção da Federação brasileira. Dessa forma, não é lógico que o Estado, enquanto promotor do bem-estar social, se mantenha inerte diante do impasse.

Outrossim, convém destacar a falta de identidade cultural como outra causa do contratempo. Acerca disso, sob a ótica do sociólogo brasileiro Betinho, o desenvolvimento humano só será efetivado quando a sociedade seguir alguns princípios, como a diversidade e a participação. No entanto, a falta de identidade cultural gera barreiras para a concretização desses valores no Brasil, uma vez que o eurocentrismo causou o apagamento de toda herança africana, seja na literatura, culinária, dança e religião. Consequentemente, esse apagamento perpetua-se até os séculos atuais, causando, em pessoas de ancestralidade africana, o desconforto de não se encaixarem na sociedade. Enquanto a falta de identidade cultural não for combatida, será impossível efetivar os princípios defendidos por Betinho.

Portanto, é crucial combater os desafios para a valorização da herança africana no Brasil. Desse modo, o Ministério da Cultura, juntamente com o IPHAN — responsável por preservar o passado histórico e cultural — deve legalizar a herança africana como patrimônio cultural, por meio da implementação de leis e políticas públicas, com o intuito de preservar essas histórias e culturas africanas no Brasil, que foram pilares para o desenvolvimento do país. Assim, a sociedade brasileira poderá, então, testemunhar o progresso coletivo, assim como na música “Imagine”.