Tema: Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil

     Em sua obra “Estado, governo e sociedade”, o expoente filósofo político Norberto Bobbio descreve a “crise do estado”, na qual o governo possui dificuldade de solucionar problemas por eles mesmos criados. Ao transpor a teoria e analisar a atual conjuntura brasileira, nota-se que a ideia filosófica exemplifica a realidade vivenciada no país, uma vez que a invisibilidade do trabalho de cuidados realizados pela mulher no Brasil representa um problema que não recebe a devida atenção no território nacional. Nesse contexto, deve-se analisar como a inoperância governamental e a sociedade patriarcal impulsionam tal problemática.

       Diante desse cenário, vale ressaltar que o Estado ao se comportar como uma “instituição zumbi”, termo postulado pelo filósofo Zygmunt Bauman ao descrever o cenário em que as instituições sociais deixam de cumprir suas funções legais e tradicionais, consolida-se como principal causador do impasse. Nesse sentido, evidencia-se no Brasil a falta de políticas públicas eficazes que busquem defender e assistir a população feminina que trabalha com cuidados, visto que elas possuem poucos direitos consolidados, assim tendo dificuldades de comprovar as horas trabalhadas na aposentadoria e a falta de leis trabalhistas que atenda essas mulheres, por consequinte atenuando a desvalorização do trabalho feminino e impedindo elas de terem acesso à sua cidadania plena. Dessa forma, fica evidente a necessidade de intervenção estatal.

Além disso, é preciso salientar como o comportamento cultural da sociedade está inserido no problema. O trabalho do lar é culturalmente imposto como responsabilidade da mulher, pois era o homem o responsável por garantir a renumeração familiar, entretanto no contexto hodierno as figuras femininas já ocupam seus espaços no mercado de trabalho, mas ainda fazem os serviços do lar. Nessa perspectiva, observa-se uma carga desgastante e excessiva para as mães ou esposas que muitas vezes desistem dos seus trabalhos externos para se dedicar à família e se tornam dependentes financeiramente de terceiros, assim tendo seu trabalho desvalorizado por não contribuir com renda da moradia.

Portanto, faz-se necessário apresentar soluções que possam mitigar o problema em questão. O Ministério do Trabalho, órgão público responsável por administrar o sistema trabalhista do país, em parceria com o poder legislativo, deve apresentar mudanças constitucionais que garanta que as mulheres tenham seus direitos trabalhistas garantidos, por meio de políticas públicas, a fim de que ocorra a valorização do trabalho de cuidados feito principalmente pela figura feminina. Postas tais ações, o Brasil irá superar a “crise do estado” descrita por Norberto Bobbio.