A persistência do abandono paternal

Na minissérie americana “O Gambito da rainha”, Elizabeth Harmon perde sua mãe em um acidente na infância e não conhece seu pai, que as abandonou cedo. Ao longo da trama, a garota busca maneiras de suprir o trauma, se tornando dependente química. Embora a história seja fictícia, ela reflete a de diversas crianças que passam pela mesma situação, um número que só aumenta.

Segundo levantamento da Central Nacional de Informações do Registro Civil (CRC), somente em 2019, 6,15% das crianças nascidas no Brasil não possuíam sobrenome paterno, um número maior em relação ao ano anterior. Assim, ressalta-se a gravidez indesejada como um dos principais fatores responsáveis pelo abandono paternal. Nesse caso, o homem, amedrontado pela responsabilidade -seja social, financeira ou psicológica- de ter um filho, opta por se afastar da mulher grávida, que se vê obrigada a criar a criança sozinha, podendo ser uma experiência traumática.

Outrossim, o abandono paternal vai muito além do fato de o progenitor reconhecer o filho. Isto é, ele pode ocorrer mesmo quando há proximidade física, morando na mesma casa, quando o pai deixa de se importar com o filho, caracterizando o abandono afetivo, contrariando o Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual implica que os responsáveis possuem o dever do cuidado, criação e convivência de seus filhos.

Portanto, urge a necessidade de que providências sejam tomadas para solucionar esse impasse. Com a finalidade de reduzir a gravidez indesejada e assim diminuir as taxas de abandono paterno, o Ministério da Educação, aliado às grandes Mídias de Comunicação, deveriam, através de campanhas televisivas ou publicações em redes sociais, conscientizar a população sobre a importância dos métodos contraceptivos, além de evidenciar as consequências do abandono paterno. Somente assim haverão menos crianças nas condições como as de Elizabeth.