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Estratégias sociopolíticas para acabar com a aporofobia no Brasil contemporâneo

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Em 1890, o escritor Aluísio Azevedo denunciou, por meio da obra “O Cortiço”, a dura realidade de pessoas que foram excluídas da sociedade devido à modernização do Rio de Janeiro, que, embora disfarçada de crescimento social, impactou ainda mais os habitantes desprestigiados socialmente. Para além do romance naturalista, é possível observar que parte da sociedade brasileira enfrenta desafios semelhantes aos descritos na obra, já que a mudança na dinâmica dos lugares intensificou o fenômeno da aporofobia — conceito criado para descrever a aversão a pessoas em situação de pobreza —, o qual contribui para a marginalização desses indivíduos, pois as estratégias sociopolíticas disponíveis se mostram insuficientes para acabar com essa mazela. Nesse viés, é preciso discutir os principais impulsionadores desse menosprezo para com os cidadãos sem recursos.

Com base nisso, percebe-se que a ausência de debates no ambiente escolar é um dos principais fatores que agrava a problemática da discriminação social. Essa lacuna surge devido à ênfase das escolas na adoção de um modelo educacional fundamentado em práticas pedagógicas tecnicistas, que negligenciam a reflexão sobre o preconceito enfrentado por indivíduos com baixo poder aquisitivo. Seguindo essa lógica, a falta de espaços para discutir temas transversais, como a discriminação enfrentada por uma considerável parcela da sociedade menos privilegiada em comparação com a elite, contradiz o pensamento do psicólogo Lev Vygotsky, uma vez que ele defende que a escola não pode se distanciar dos aspectos da vida cotidiana daqueles que a frequentam. Diante disso, é inadmissível que, devido à carência de estratégias sociopolíticas eficazes para erradicar a aporofobia, a questão socioeconômica de algumas pessoas continue a ser estigmatizada tanto dentro quanto fora do ambiente estudantil.

Compreende-se, além disso, o sensacionalismo midiático como outro fator impulsionador da aversão aos cidadãos de baixa renda. Isso porque a mídia, por vezes, enfatiza apenas algumas notícias de forma exagerada para atrair uma gama de telespectadores e, como resultado dessa seletividade, omite conteúdos que deveriam ser devidamente explorados. A título de exemplo, tem-se a aporofobia, muitas vezes silenciada pelos meios de comunicação, que optam por não divulgar informações que explorem as causas e as consequências da pobreza, o que, consequentemente, abre caminhos para a perpetuação de atitudes discriminatórias. Assim, nota-se um claro exemplo desse cenário hostil nas intervenções arquitetônicas “antipobres”, promovidas pela prefeitura do Rio de Janeiro, em 2022, as quais visavam evitar a presença de moradores de rua em locais de uso comum, segundo pesquisa da BBC News Brasil. Dessa maneira, não há como negar que esse óbice persiste, em parte, em virtude da mídia, que continua a acobertar a temática da fobia às pessoas pobres.

Portanto, para sanar a omissão dos centros estudantis e o sensacionalismo na mídia frente à aporofobia, urge ao MEC, junto às secretarias de educação, reformular a grade curricular das escolas. Isso pode ser feito mediante a criação da disciplina “Abraçando as diferenças”, a qual será ministrada por professores de filosofia e sociologia, pois serão eles que mostrarão aos alunos as raízes e os impactos desse preconceito de classe, contando, também, com minicursos, que serão divulgados nas redes sociais desses órgãos educacionais, de modo a promover a compreensão pública sobre o tema e afastar o foco superficial e sensacionalista da mídia. Afinal, a fim de que a sociedade não sofra em decorrência dessa repulsa social, é chegada a hora em que o cenário aporofóbico não precise ser o tema nem de livros nem de pesquisas nacionais.

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9 Correções

  1. “{…} pois as estratégias sociopolíticas disponíveis se mostram insuficientes para acabar com essa mazela.” Depois do “pois”tem vírgula.

    Preciso admitir que sua redação é digna de nota 1000. Não tenho costume com essa estrutura de deixar os argumentos abertos e só mostra-los no desenvolvimento, mas ficou ótimo. No meu ponto de vista está muito boa.

    Parabéns!!

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  2. Excelente redação.

    c1 200 – O texto está excelente não fui capaz de encontrar erros gramáticos suficientes pra cair a nota aqui. Só percebi uma vírgula ou outra ausente.
    c2 200
    c3 200
    c4 200
    c5 160 – Achei uma solução genérica olhando a qualidade do texto como um todo. Poderia dar mais detalhes, trazer uma citação ou algum dado relevante pra embasar.

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  3. Claro, vamos analisar a redação com base nas cinco competências avaliadas no Enem:

    1. **Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa**: Sua redação apresenta um bom domínio da escrita formal, com uso correto da gramática e vocabulário adequado. Nota: 200 pontos.

    2. **Compreender a proposta da redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo**: Você compreende bem a proposta da redação e desenvolve o tema de forma consistente, aplicando conceitos sociopolíticos para discutir a aporofobia. No entanto, sua argumentação poderia ser mais detalhada e abrangente. Nota: 160 pontos.

    3. **Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista**: Você seleciona e organiza informações de forma satisfatória, mas poderia expandir mais suas argumentações, fornecendo exemplos adicionais e explorando diferentes perspectivas. Nota: 140 pontos.

    4. **Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação**: Sua redação utiliza mecanismos linguísticos adequados para construir a argumentação, como conectores lógicos e coesão textual. No entanto, algumas frases poderiam ser mais elaboradas para fortalecer o desenvolvimento do texto. Nota: 160 pontos.

    5. **Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos**: Sua proposta de intervenção é clara e apresenta uma solução viável para combater a aporofobia, respeitando os direitos humanos. No entanto, poderia ser mais detalhada e abordar possíveis desafios de implementação. Nota: 180 pontos.

    Total: 840 pontos.

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